quarta-feira, 9 de maio de 2007

Catarse


Lá estava eu, nove horas da manhã depois de uma noite inteira de virada cultural, esperando mais uma peça de teatro começar, boa parte das pessoas já tinham ido embora quando chegou um menino, mais ou menos oito anos de idade, sozinho, sujo, sem agasalho (e fazia frio) e se sentou algumas fileiras abaixo de mim. Não sei exatamente porque, mas meu primeiro impulso foi tirar uma foto (no caso essa acima), e depois olhando para ele, senti vontade de chorar. Vi uma solidão, um desespero, uma falta de esperança, tantas coisas pesadas demais para uma criança. Mas ele estava ali, esperando o teatro começar, assim como eu, porém aquilo seria para ele como um escape momentâneo da realidade, talvez ele começasse a imaginar que a vida poderia ser diferente, que poderia ser o herói daquela história, que não estava realmente sozinho. Ali poderia chorar tudo aquilo que o angustiava que o machucava sem ter que pensar no motivo, seria por causa da peça, e não precisaria de mais explicações.
Catarse. É assim que Aristóteles chamaria isso. A definição seria: "Catarse é a purificação das almas através da descarga emocional provocada por um drama." Era isso que o garoto estava fazendo, e eu lembrei disso pouco depois de sair dali, acabei nem assistindo a peça e não pude ver as reações dele, mas por todo o resto do dia isso não saiu da minha cabeça. Acho que esse menino, sentado ali, sozinho esperando o teatro começar foi o melhor exemplo de catarse que eu pude encontrar.

Um comentário:

Éverton Vidal Azevedo disse...

Cartarse... Gostei do texto, e da foto também.

Interessante.