terça-feira, 15 de maio de 2007

O que é Arte?


As doutrinas estéticas de Platão são algo oscilantes entre uma valorização e uma desvalorização da arte. Em todo caso, no conjunto do seu pensamento, em oposição ao seu gênio e ao gênio artístico grego, prevalece a desvalorização por dois motivos, teorético um, prático outro. O motivo teorético é que a arte resultaria como cópia de uma cópia: cópia do mundo empírico, que é já uma cópia do mundo ideal; cópia não de essências, como a ciência, mas de fenômenos. Por conseqüência, a arte deveria ser, gnosiologicamente, inferior à ciência. O motivo prático é que a arte - dada esta sua inferior natureza teorética, impura fonte gnosiológica - torna-se outro tanto danosa no campo moral. Atuando cegamente sobre o sentimento, a arte nos atrai para o verdadeiro, como para o falso, para o bem como para o mal.
Seja como for, encontramos em Platão uma tentativa de valorização da arte em si, sendo considerada a arte como uma espécie de loucura divina, de mania, semelhante à religião e ao amor, ou seja, uma espécie de revelação superior. A arte, pois - como o amor, que tem por objeto a Beleza eterna e os graus que levam até ela - deveria ser um itinerário especial do espírito para o Absoluto e o inteligível, algo como que uma filosofia, porquanto deveria atingir intuitivamente, encarnada em formas sensíveis, aquele mesmo ideal inteligível que a filosofia atinge abstratamente, na sua pureza lógica, conceptual.


Aristóteles como Platão considera a arte como imitação, de conformidade com o fundamental realismo grego. Não, porém, imitação de uma imitação, como é o fenômeno, o sensível, platônicos; e sim imitação direta da própria idéia, do inteligível imanente no sensível, imitação da forma imanente na matéria. Na arte, esse inteligível, universal é encarnado, concretizado num sensível, num particular e, destarte, tornando intuitivo, graças ao artista. Por isso, Aristóteles considera a arte a poesia de Homero que tem por conteúdo o universal, o imutável, ainda que encarnado fantasticamente num particular, como superior à história e mais filosófica do que a história de Heródoto que tem como objeto o particular, o mutável, seja embora real. O objeto da arte não é o que aconteceu uma vez como é o caso da história , mas o que por natureza deve, necessária e universalmente, acontecer. Deste seu conteúdo inteligível, universal, depende a eficácia espiritual pedagógica, purificadora da arte.
Se bem que a arte seja imitação da realidade no seu elemento essencial, a forma, o inteligível, este inteligível recebe como que uma nova vida através da fantasia criadora do artista, isto precisamente porque o inteligível, o universal, deve ser encarnado, concretizado pelo artista num sensível, num particular. As leis da obra de arte serão, portanto, além de imitação do universal verossimilhança e necessidade coerência interior dos elementos da representação artística, íntimo sentimento do conteúdo, evidência e vivacidade de expressão. A arte é, pois, produção mediante a imitação; e a diferença entre as várias artes é estabelecida com base no objeto ou no instrumento de tal imitação.

Fonte de Pesquisa: http://www.mundodosfilosofos.com.br/

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Catarse


Lá estava eu, nove horas da manhã depois de uma noite inteira de virada cultural, esperando mais uma peça de teatro começar, boa parte das pessoas já tinham ido embora quando chegou um menino, mais ou menos oito anos de idade, sozinho, sujo, sem agasalho (e fazia frio) e se sentou algumas fileiras abaixo de mim. Não sei exatamente porque, mas meu primeiro impulso foi tirar uma foto (no caso essa acima), e depois olhando para ele, senti vontade de chorar. Vi uma solidão, um desespero, uma falta de esperança, tantas coisas pesadas demais para uma criança. Mas ele estava ali, esperando o teatro começar, assim como eu, porém aquilo seria para ele como um escape momentâneo da realidade, talvez ele começasse a imaginar que a vida poderia ser diferente, que poderia ser o herói daquela história, que não estava realmente sozinho. Ali poderia chorar tudo aquilo que o angustiava que o machucava sem ter que pensar no motivo, seria por causa da peça, e não precisaria de mais explicações.
Catarse. É assim que Aristóteles chamaria isso. A definição seria: "Catarse é a purificação das almas através da descarga emocional provocada por um drama." Era isso que o garoto estava fazendo, e eu lembrei disso pouco depois de sair dali, acabei nem assistindo a peça e não pude ver as reações dele, mas por todo o resto do dia isso não saiu da minha cabeça. Acho que esse menino, sentado ali, sozinho esperando o teatro começar foi o melhor exemplo de catarse que eu pude encontrar.